* Publicado originalmente no site Brasil Econômico em 12/07/11
No último dia 7, a tragédia da Escola de Realengo (RJ) completou noventa dias. Passados a comoção e o forte impacto, provocados pela tragédia, potencializados pelo sensacionalismo de uma mídia do espetáculo, quem ainda se lembra daquelas cenas de horror, a não ser as crianças e adolescentes que sobreviveram ao terror e seus familiares, diretamente atingidos pela explosão de loucura de um jovem doente, também ele vítima de uma sociedade violenta da qual se vingou, punindo-se, em seguida, ao suicidar-se.
Nos primeiros dias após o pavoroso acontecimento, muito se falou sobre ele. Os especialistas da alma e do comportamento humano tentavam encontrar os possíveis motivos dos atos tresloucados do infeliz rapaz. Diferentes hipóteses foram aventadas.
Nenhuma, porém, suficiente para explicar o que teria provocado tamanha explosão de ódio contra garotos indefesos e, note-se, as meninas foram o alvo preferido do assassino, o que sugere provável aversão às mulheres.
O fato é que a tragédia nos impactou a todos e gerou perplexidade e ansiosa busca de explicações para o inexplicável. Todos se perguntavam por que tanto ódio e sede de vingança.
À medida que os dias foram passando e a comoção coletiva diminuía, a racionalidade se impôs para que pudessem ser levantadas possíveis causas dos atos violentos cometidos e, mais importante, buscar saídas para evitar outras tragédias e proteger potenciais vítimas de situações semelhantes.
Neste sentido, devemos resgatar experiências realizadas no passado, com algum sucesso, mas que não tiveram continuidade, em razão da cultura política que determina o comportamento dos gestores públicos que, quase sempre, interrompem políticas e iniciativas de seus antecessores sem considerar o interesse público.
Destaco, entre outras, o Programa Nacional Paz na Escola, que envolveu os Ministérios da Justiça e da Educação, e que durou de 1999 a 2005. Tinha como principal objetivo tornar a escola um lugar seguro e propiciador de paz e de convivência feliz.
Referido Programa fundamentava-se na compreensão de que a resposta ao problema da violência na escola não está em cercar o prédio com muros altos; nem instalar detectores de metais nas entradas; nem em aparato policial.
Estas têm sido soluções fáceis e simplistas, apontadas por autoridades para um problema complexo cuja origem não está no ambiente escolar, mas, sim, na família e na sociedade e envolve vários aspectos.
Em parceria com instituições públicas e privadas, movimentos sociais e comunidades locais, o Programa desenvolvia projetos e ações em todo o país, com vistas a estimular uma convivência na escola marcada por solidariedade, cooperação, tolerância e respeito mútuo.
Experiências como essa devem ser recuperadas e adotadas por governos em parceria com a sociedade civil organizada, no enfrentamento dos mesmos problemas que, ainda hoje, nos desafiam e que assumiram dimensão de tragédia no caso de Realengo.
Jamais devemos esquecer o martírio de crianças e adolescentes, cujas vidas foram bárbara e precocemente ceifadas e que as lições da tragédia sejam aprendidas e sirvam de alerta para que nunca mais algo semelhante aconteça.
Que as escolas sejam, de fato, um espaço de convivência onde crianças, adolescentes, educadores e pais construam juntos uma cultura de paz.
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