Discursos

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pássaro Preto


Artigo escrito para a Revista Felc N°1 - Março de 2007

Nasci em Canaã... Que virou Belém... Que virou Uiraúna. Nomes estes que exerceram enorme fascínio sobre mim quando era criança e, até mesmo, depois que cresci.
Belém lembra Presépio... Manjedoura... Natal.

Canaã leva a imaginação às bodas de Caná onde Jesus, a pedido de sua Mãe, realiza o primeiro milagre, para assombro dos que participavam da festa.

Foi difícil me acostumar quando virou Uiraúna, nome emprestado de um pássaro da região, que desperta curiosidade. Sempre me perguntam: ”de onde vem esse nome estranho?”. Aí eu respondo, com uma pontinha de orgulho: “ é o nome de um pássaro preto que existe por lá”. De repente me assalta uma dúvida: “Será que é verdade? Eu nunca vi um pássaro desses!”

Ficou mais complicado quando virei prefeita de São Paulo. Todo mundo queria saber quem eu era e onde tinha nascido. Aí então, Uiraúna virou notícia e começou a aparecer em tudo que era jornal, rádio e tevê. Fiquei feliz de ver minha pequenina e longínqua Uiraúna se tornar conhecida. Muita gente passou a se interessar de saber que pássaro é esse que se chama Uiraúna.

Saí de lá bem pequena, fugindo da seca com meus pais e irmãos  e com muitas outras famílias que, como a minha, tinham que arribar para não morrer de fome e sede.

Logo que a chuva chegava ao sertão, voltávamos correndo, pois não sabíamos viver fora de lá.
Mais tarde, com um pouco de idade, fui migrando dentro do próprio Estado em busca de oportunidade de estudo para poder ser “gente”.

Graças à generosidade de parentes que me acolheram, consegui ultrapassar os limites do saber que Uiraúna me oferecia e me inserir em níveis mais elevados de conhecimento.

Sonhava com as férias escolares para voltar ao seio da minha família e ao convívio com os jovens da minha geração e, com eles, usufruir a fantástica experiência de compartilhamento da vida simples e fascinante da nossa cidadezinha.

É impossível esquecer as animadas festas da padroeira da cidade, a Sagrada Família: Jesus, Maria e José, todos os anos, no mês de janeiro. Festas que nos uniam e envolviam a todos nas solenes celebrações religiosas ao mesmo tempo que nos dividiam na acirrada disputa entre dois partidos: o “cordão azul” e o “cordão encarnado”. No final, ganhava um ou outro, mas quem saía mesmo ganhando era a paróquia com o resultado financeiro da festa, fruto de leilões e quermesses animadas que faziam a alegria de toda a gente.

Quem não se lembra da figura austera de Pe. Anacleto, santo homem, vigário zeloso que conduzia com amor e dedicação a vida espiritual do seu rebanho.

Éramos felizes e sabíamos. Até que a vida nos levou para muito longe, por caminhos e destinos jamais imaginados, nos distanciando sempre mais das nossas origens. Restaram a saudade e o desejo enorme de reviver tudo aquilo que nos encantou nos anos felizes da nossa infância despreocupada; que suscitou os sonhos dourados da nossa juventude e que, até hoje, alimentam a esperança que nos anima e nos impulsiona a construir um mundo novo, onde todos, sem exceção, tenham garantido o direito à paz e à felicidade; sem exceção, tenham garantido o direito à paz e à felicidade; sem perdermos nunca o encanto da infância e a magia da juventude, preservando as raízes, fonte perene de inspiração, estejam onde estiverem plantadas: seja em uma terra encantada chamada Canaã ou Belém; seja na morada do pássaro preto de belo nome Uiraúna.

13 comentários:

  1. Linda a crônica, que me satisfez algumas curiosidades. É bonito o seu amor pela cidade natal. Como caipira de Taubaté, sinto o mesmo, e nisso sou conservador: lamento e me irrito quando derrubam um casarão ou mesmo casa de minha infância...para botarem estacionamentos no lugar!
    Erundina também tem vínculo com Taubaté, onde lecionou no começo de sua carreira paulista, e mantém muitos amigos - entre os quais ouso me incluir.
    Aliás, estamos lhe esperando aqui, em 1 de abril (sem mentiras!...rsrsrs), para uma exposição que organizo sobre o Ano da Holanda no Brasil. Queremos revê-la, nossa Amiga e nossa Deputada!

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  2. Obrigada, Uiraúna, por emprestar Luiza Erundina a São Paulo.

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  3. Fico maravilhado com sua humildade e coragem de assumir sua raiz uiraunense. Depois de tantos anos longe ainda demonstra um amor sincero por esta cidade e seus conterrâneos. Parabéns!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Parabéns Luiza Erundina que Deus continue abençoando teus caminhos. O Povo de Belém, Canaã ou Uiraúna te amam.

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  6. Parabéns conterrârea.Como é leve,suave e envolvente o que diz em seu artigo.Sempre fomos orgulhosos de voce,pena que nunca votamos em voce.Este previlégio ficou para os paulistas,onde voce exerceu e exerce mandatos com muita visibilidade.

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  7. Luiza Erundina

    Gostei muito de você abrir um espaço para mostrar , aos seus eleitores, o seu lado mais humano e pessoal.
    Gostei do seu artigo, pois acho lindo quando relembramos o passado sob olhar da poesia e do lirismo por que, por mais dura que tenha sido a realidade, são as impressões da infância , fincadas no fundo de nossas almas , que nortearão a força geradora de nossa sensibilidade mais profunda, da compaixão e dos compromissos que assumiremos, seja com nós mesmos ou com o outro, no decorrer de nossas vidas.
    Vamos seguir...Abraços Profa.Sandra Rodrigues

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  8. sou um cidadão luis gomense,mais ñ deixei de me emocionar com tão bela crônica ,escrita por uma mulher integra e grandiosa q é luiza erondina.me emociono quando vejo pessoas,elogiarem seu torrão natal,pois gosto muito dessas lembranças q levan a gente ao passado.

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  9. Parabenizo a senhora por ter essa atitude humilde de reconhecer as suas raizes sertaneja de prestigiar a nossa pequena cidade no aspecto fisico e grande no indice de intelectuais que brilham aqui no nosso imenso territorio brasileiro.

    José Fernandes Moreira Filho.

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  10. UHUHUH Luíza ...adorei suas reminiscências, e "juro" que não estou a plagiando, mas vou postar, espero que ainda hoje, "um causo" dos sertões secos e das vidas severinas dos meus valorosos ancestrais....temos de honrar a terra e a vida desses heróis, no blog a contadora de causos..........bjs emocionados.....Ivone Galdino

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  11. Uirauna se orgulha de ter a deputada Erundina, uma mulher de muitas lutas, defendendo uma sociedade mais justa e igualitária!

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  12. eu mim orgulha de ser filha de uirauna e ter erundina como minha conternea parabens para todos de uirauna estou morando em Brasilia mais nao esqueço uirauna

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  13. Conpanheira Erundina, eu me orgulho muito de ter trabalhado na CMTC(são paulo trasporte)na sua gestão junto com os Prfs paulo sabaag e paulo sandroni, vieirinha de janduis...
    abraço

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