Repensar, hoje, o Partido dos Trabalhadores é uma exigência
que decorre não apenas do fato de estar completando 30 anos de fundação, mas
também porque o país que o viu nascer não é mais o mesmo. O Brasil viveu
profundas transformações nas três últimas décadas, especialmente no que se
refere ao mundo do trabalho, matriz da qual se originaram os fundamentos
daquele novo partido político.
O PT surgiu em uma conjuntura marcada pelo fim da ditadura e início do processo
de redemocratização, em um cenário de confrontos e disputas entre os que
resistiam ao fim do regime militar e as forças democráticas que construíam o
processo de abertura política.
O principal debate travado naquele momento ocorreu sobre o caráter da transição:
se era uma transição da ditadura militar para um governo civil; ou se deveria
ser a passagem de um regime ditatorial para a democracia. Esta era a posição
defendida pelos que construíam os alicerces do "Projeto PT",
concebido como um partido socialista democrático.
A criação do PT propiciou uma rica experiência que envolveu os sindicatos de
trabalhadores e os movimentos sociais e populares que se dedicaram à luta pela
democracia. Assim, o partido é fruto da luta política do povo brasileiro que
passou a acreditar em si mesmo e a protagonizar o processo de construção de um
novo momento da nossa história política.
A partir de 1982, o partido começou a participar das eleições; conquistou
mandatos parlamentares e governos, culminando com a eleição de Lula presidente
da República por duas vezes, que, a meu ver, marca o fim de um ciclo
histórico-social que teve início com a luta de resistência à ditadura.
O PT cumpriu um papel fundamental na construção do ciclo histórico que, hoje,
apresenta sinais de esgotamento, porém, não é mais o mesmo. A realidade
brasileira coloca novos desafios, não só para o PT, mas para todas as forças de
esquerda e do campo democrático-popular.
Um novo ciclo começa a emergir da mesma fonte que originou o que ora se encerra,
ou seja, a luta do povo por direitos e cidadania; por justiça e democracia. Os
sujeitos coletivos que o constroem são as forças populares, como o MST, o
movimento de mulheres, o étnico-racial e dos homossexuais, o movimento
ecológico... Todos os que lutam por mudanças. Esses movimentos nem sempre se
expressam politicamente, embora sejam forças sociais importantes, que precisam
se articular e definir um rumo a seguir ou um projeto político a construir,
tendo como base a realidade concreta do povo.
As forças populares que construíram o PT e elegeram Lula presidente não
influenciaram seus governos. Não foram chamadas a participar das decisões
estratégicas. Assim, pois, perdemos a oportunidade de iniciar um novo processo
político em que a ética pública fosse um pressuposto; e a participação popular,
sua marca registrada.
A globalização e a revolução tecnológica impactaram as relações econômicas e a
composição social do Brasil. Em razão disso, a sociedade brasileira apresenta,
hoje, características diferentes das de trinta anos atrás.
O futuro do PT estará, necessariamente, relacionado à consolidação da
democracia e à afirmação do socialismo, fonte de inspiração desde sua origem e
utopia que alimenta a militância no curso de sua história.
Além disso, a retomada de seu vínculo com os movimentos sociais e populares
supõe a abertura de um novo e criativo debate, com uma agenda que ultrapasse os
limites da institucionalidade que tem condicionado a atuação do PT e dos
movimentos de sua base.
É preciso resgatar a rica experiência acumulada e preservar o legado deixado
pelos petistas que já não estão entre nós e ajudaram a cavar os alicerces que
ainda hoje sustentam o belo sonho chamado PT. Nossas homenagens aos petistas de
ontem e de hoje.
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